TEXTO ESCRITO POR MIM PARA LEITURA COMPLEMENTAR DO 7º ANO.
Geralmente, quando pensamos na frase “povo civilizado”, pensamos numa população que segue uma série de critérios
europeus. Assim, ao olhar para populações que se desenvolveram de forma
diferente a esses critérios, pensamos que estas não são civilizadas. Nossa
noção do que é um ser humano “civilizado” está muito ligado ao europeu.
Por exemplo, o que é uma pessoa culta?
É aquela pessoa que entende muito de samba, ou de música clássica? Por que não
ouvimos falar em “cultura branca”?. Especificamos “cultura negra” para indicar
“o outro”. Quando a cultura é europeia, achamos que não há necessidade de
especificação. Ou seja, a Europa elegeu a si mesma como expressão da humanidade
(numa espécie de narcisismo continental).
A verdade é que, até o século 16, o
desenvolvimento africano era superior ao europeu em várias áreas do
conhecimento. O racismo europeu pintou uma África ruim, porque precisava negar
a dimensão humana do africano para justificar sua escravização e,
posteriormente, colonização.
No Brasil, a colonização tem como
característica o fato de que os portugueses vieram desenvolver aqui agriculturas
tropicais e realizar a exploração de recursos naturais que não eram do
conhecimento europeu. Foi o conhecimento africano que viabilizou esta colonização
nos trópicos. Os negros dominavam os cultivos da cana-de-açúcar, da banana, do
café, do algodão, do couro e do gado, entre outros, além de serem conhecedores
de técnicas de mineração amplamente apropriadas pelos conquistadores.
Os africanos também introduziram uma forma de tecelagem para fabrico de panos para roupas e para outras
utilidades, entre elas redes de dormir, velas de embarcações e sacaria para
embalagem de produtos alimentícios. Boa parte do vestuário utilizado pelos
africanos e seus descendentes, era de fabricação artesanal própria.
A tradição de confecção de redes de dormir no nordeste permanece até
hoje utilizando a forma têxtil de tear vinda da África.
A experiência neste ramo também inclui outra, no campo da química, nas áreas da produção de tinturas e fixadores de cores.
A experiência neste ramo também inclui outra, no campo da química, nas áreas da produção de tinturas e fixadores de cores.
Sobre técnicas
de construção, no Brasil há igrejas, edifícios e praças públicas que têm
influencia africana. Muito do que foi realizado pelos africanos e
afrodescendentes é conhecido como obras de autores anônimos, mas nos interiores
das construções as assinaturas simbólicas destes construtores são realizadas
pela incorporação de símbolos da cultura de base africana.
O âmbito racista da colonização e a
desinformação sobre o desenvolvimento da África fizeram com que o imigrante
africano fosse sempre caracterizado como mão de obra bruta, como força apenas
de massa muscular e não pensante.
No Brasil, o trabalho foi durante
muito tempo obra quase que exclusiva de africanos e afrodescendentes. A
imigração forçada de africanos de diversas regiões trouxe um elenco
surpreendente de profissionais e uma infinidade de ideias nos diversos campos
do conhecimento. Da mineração, da construção, da engenharia civil, das artes,
na arquitetura, na agricultura, na produção têxtil, na metalurgia, na química e
farmacologia, na marcenaria e na náutica.
É importante enfatizar essa questão
para dissiparmos teorias racistas a respeito da suposta inferioridade de
determinados grupos humanos em relação a outros no que se refere à capacidade
cognitiva para empreender o desenvolvimento em suas sociedades.
Nos séculos 18 e 19, vários cientistas
publicaram trabalhos afirmando a inferioridade biológica de determinados
grupos, a ponto de criar modelos mentais que identificavam os negros e índios
como seres inferiores.
A negação do passado científico e
tecnológico dos povos africanos foi uma das principais façanhas do
eurocentrismo e que ainda hoje abala a autoestima da população africana, pois
deu a impressão de que elas não tiveram uma contribuição relevante para a
construção do conhecimento universal.
ALGUMAS CONTRIBUIÇÕES CIENTÍFICAS E
TECNOLÓGICAS DE POVOS AFRICANOS À:
a)
Medicina: O título de
“Pai da Medicina”, atribuído ao grego Hipócrates, corresponde a mais um
equívoco cometido pelo domínio europeu. O título de “pai da medicina” seria
mais apropriado ao cientista e clínico egípcio Imhontep, que quase 3 mil anos
antes de Cristo praticava quase todas as técnicas básicas da medicina. O Egito
possuía uma ciência médica e farmacológica sistematizada e muito desenvolvida,
onde os cientistas egípcios tiveram a capacidade de promover cirurgias
complexas como as cerebrais, de catarata ou o engessamento de membros com ossos
quebrados, conhecer substâncias cicatrizantes e anestésicos. Na odontologia, já
usavam brocas e praticavam os procedimentos de colocação de prótese e drenagem
de abscessos.
Na região da atual Uganda, um
cirurgião inglês presenciou, no século 19, uma cesariana feita por médicos do
povo Banyoro, que demonstraram profundo conhecimento dos conceitos e técnicas do
caso.
b)
Astronomia: Os
africanos da nação Dogon, situados na região do antigo Mali, já tinham
conhecimento do satélite da estrela Sirius, invisível a olho nu. Denominavam-no
de Potolo, e desenhavam, com exata precisão, a sua órbita em torno de Sirius.
Conhecedores de 86 elementos fundamentais, os Dogon sabem identificar as
propriedades do metal que compõe o satélite, que chamavam sagala, mais
brilhante que o ferro e tão pesado que todos os seres terrestres juntos não
seriam capazes de levantá-lo.
Os egípcios foram os primeiros a
estabelecer a noção de ano, dividindo este em 12 partes, segundo o conhecimento
que possuíam dos astros, fazendo cada mês ter 30 dias.
c)
Engenharia, arquitetura e matemática:
o povo Haya, entre 1500-2000 anos atrás, usava tecnologia própria para produzir
aço em fornos que atingiam temperaturas mais altas que os fornos europeus até o
século 19.
Outra obra impressionante são as
ruínas da muralha do complexo urbano do Grande Zimbábue. Nessa monumental
construção as pedras são colocadas uma em cima da outra, sem cimento, de forma
semelhantes às construções dos sítios históricos do Peru.
A construção das pirâmides do antigo
Egito também são exemplo de contribuição à engenharia e à arquitetura, além da
matemática envolvida nessas construções ser realmente impressionante.
d)
Navegação: Quem
acredita que o primeiro navegador a dobrar o cabo das Tormentas, no sul da
África, foi o português Bartolomeu Dias, em 1488, precisa rever seus conceitos.
2000 anos antes, um barco egípcio já havia realizado a circunavegação da
África.
FONTES
CUNHA JR, Henrique. Tecnologia
africana na formação brasileira. http://www.ifrj.edu.br/webfm_send/268.
CUNHA, Lázaro. Contribuição dos povos
africanos para o conhecimento científico e tecnológico universal. http://www.acaoeducativa.org.br/fdh/wp-content/uploads/2012/11/contribuicao-povos-africanos.pdf.